sexta-feira, fevereiro 24, 2006

Caricaturas "mexem" também na Guiné

Guiné A comunidade islâmica da Guiné-Bissau pretende sair hoje (sexta) à rua, para pedir a demissão do secretário de Estado da Comunicação Social, João de Barros, proprietário do jornal Diário de Bissau, que reproduziu oito das polémicas caricaturas de Maomé.

Segundo escreve hoje Fernando Jorge Pereira no site do Expresso, a manifestação está a ser preparada pelo Conselho Superior dos Assuntos Islâmicos da Guiné-Bissau (CSAIGB), uma das duas organizações que agrupa dezenas de associações islâmicas, e cujo secretário executivo, Mustafa Rachid Djaló, qualificou a publicação dos polémicos cartoons de forma de "assimilação do Islão ao terrorismo".

Para o dirigente islâmico a iniciativa do jornal guineense destina-se a atrair as atenções dos países ocidentais. "Querem obter financiamentos à nossa custa», declarou Rachid Djaló. E advertiu que os muçulmanos guineenses «estão exaltados".

O secretário executivo do CSAIGB revelou que após a reza geral, que todas as sextas-feiras agrupa milhares de fiéis islâmicos, estes vão dirigir-se à sede do "Diário de Bissau", para protestar pacificamente contra a publicação das caricaturas.
"Não se trata de um confronto de religiões", defendeu Mustafa Djaló, segundo o qual «as pessoas de boa fé estão connosco», em referência ao apelo do Papa Bento XVI, que pediu o respeito pelas religiões, quando há dias recebeu o embaixador marroquino no Vaticano.
Lembrou também as palavras do secretário geral das Nações Unidas, Kofi Annan, de que «a liberdade de imprensa deve ser exercida no respeito das religiões".
Mustafa Djaló insurgiu-se igualmente contra a política islâmica do Governo de Bissau, que qualificou de "hipócrita" e que prometeu «desmascarar» numa campanha de sensabilização. Esta manhã o CSAIGB dá uma conferência de imprensa na mesquita de Amedalai, uma das maiores da capital.
Até aqui, a única reacção dos muçulmanos guineenses à controvérsia suscitada pelas caricaturas do profeta Maomé partiu do Conselho Nacional Islâmico (CNI). A organização divulgou um comunicado, na segunda-feira, onde condena "a provocação à Oma (comunidade) islâmica" levada a cabo pela imprensa dinamarquesa.
O comunicado, anterior à saída do número do Diário de Bissau com um artigo do EXPRESSO, de 4 de Fevereiro último relativo às caricaturas, limita-se a manifestar "solidariedade total com todos os países islâmicos do Mundo que rejeitam este tipo de liberdade de imprensa e de democracia". Mas é possível que o CNI organize manifestações de protesto. Poderão realizar-se depois do Carnaval, que começa este fim-de-semana em Bissau.
Por seu lado, a direcção do Diário de Bissau ainda não deu qualquer explicação sobre a publicação das caricaturas, mas sabe-se que a decisão não foi pacífica na redacção.

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