quarta-feira, fevereiro 22, 2006

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Caricaturas dividem islamitas

Jordânia O jornalista jordano Jihad Momani, que foi despedido por ter publicado as caricaturas, escreveu: “O que gera mais preconceito contra o Islã, essas caricaturas, a imagem de um sequestrador cortando a garganta de sua vítima em frente das câmeras ou um homem-bomba que explode a si mesmo durante um casamento?”
A transcrição é veiculada por The New York Times.

No Iemen, Assadi, editor, escreveu um editorial condenando as caricaturas mas também lamentando a forma como muitos muçulmanos reagiram: “Os muçulmanos tiveram uma oportunidade de educar o mundo sobre os méritos do seu profeta e a paz da sua religião”, e acrescentou: “Os muçulmanos sabem perder mais do que usar uma oportunidade.”

Para ilustrar sua opinião, ambos os editores publicaram seleções dos desenhos – e por isso foram presos e ameaçados com penas extensas.

Momani e Assadi estão entre os 11 jornalistas em cinco países que enfrentam processos por terem publicado algumas das caricaturas.

As emoções exacerbadas, a violência presente nos protestos e a prisão de jornalistas, alarmaram as pessoas, principalmente escritores, que querem expressar idéias contrárias ao sentimento da maioria. Elas ameaçaram aqueles que afirmam que os grupos islâmicos manipularam o público para mostrar seu poder, e que governos usaram as caricaturas para estabelecer suas próprias credenciais religiosas.

Ainda que as caricaturas tenham realmente enfurecido os muçulmanos, a dinâmica regional por trás do conflito tem evoluído nas últimas décadas, nas quais os líderes tentaram atrasar o crescimento do apelo político islâmico tentando estabelecer a si mesmos como guardiões da fé.

Portugal Paula Cardoso esdcreveu na VISÃO de 9 Fev. 2006:
"Está completamente nu, enrolado a uma serpente e prestes a ser torturado por um demónio. Tem o nome de profeta divino – Maomé – mas aparece condenado ao sofrimento do Inferno. No entanto, poderá ser libertado a qualquer momento, em nome de Alá, o Deus que o terá enviado à Terra para espalhar a mensagem do Islão. Depois de mais de cinco séculos e meio de martírio, num fresco da basílica de São Petrónio de Bolonha, Maomé inspira planos de resgate. A imagem do profeta, pintada por Giovanni da Modena, com base na Divina Comédia de Dante, engrossa a lista de alvos da Al Qaeda desde 2002. Mas ameaça assumir carácter de urgência, na resposta à publicação de caricaturas de Maomé, no diário dinamarquês Jillands Posten.Tal como a obra de Modena, de 1415, os cartoons escandinavos, de Setembro de 2005, despertam o ódio do Islão contra o que dizem ser uma «blasfémia» do Ocidente – os muçulmanos alegam que toda e qualquer representação do profeta constitui uma afronta à religião, embora os textos sagrados nada refiram sobre a proibição.No mais polémico dos desenhos, qual Usama bin Laden, o profeta usa um turbante em forma de bomba. Pela dignidade de Maomé, a mesma lógica extremista que anuncia atentados na igreja italiana, renova as promessas de violência nas ruas. Os protestos, que desde a semana passada atingem países da África, Ásia e Europa, começaram na Dinamarca, poucos dias após a divulgação das caricaturas de Maomé. Na terça-feira, 7, à passagem por Bruxelas, Londres, Síria, Líbano, Afeganistão, Iraque, Tailândia, Indonésia, Paquistão, Jordânia, Egipto ou Somália, esta onda de indignação e violência tinha já feito dez mortos e largas dezenas de feridos.A contra-informação islâmicaDa primeira marcha anti-cartoons, que juntou cerca de 5 mil muçulmanos em Copenhaga, para a internacionalização da crise a vários estados, passaram cerca de quatro meses. Sempre com o imã Ahmed Abu Laban no comando das operações, e, até 3 de Fevereiro, longe das preocupações do primeiro-ministro dinamarquês. Em meados de Outubro, Fogh Rasmussen recusou receber dez embaixadores da comunidade islâmica residente na Dinamarca, que representa cerca de 3% de uma população de 5,4 milhões de habitantes. A explicação, baseada no respeito pela liberdade de imprensa, desviou os queixosos da negociação política: «Devem apresentar as ofensas em tribunal.» No cumprimento do conselho, os representantes árabes esbarraram logo na fase de investigação do processo, porque as autoridades judiciais decidiram não formalizar a acusação. A impotência na Dinamarca empurrou os protestos além-fronteiras. «Queremos internacionalizar o assunto para que o Governo perceba que as caricaturas não insultam apenas os muçulmanos da Dinamarca, mas todos os árabes do mundo.» A convicção de Abu Laban, citada pelo IslamOnline.net, foi reforçada num dossiê de 43 páginas especialmente preparado a pensar nos líderes islâmicos. O arquivo, promovido por uma aliança de grupos muçulmanos dinamarqueses, terá circulado nos corredores da última reunião da Liga Árabe, nos Emirados Árabes Unidos. Mas antes passou pelo Egipto, disposto a demonstrar ao Islão o clima racista que afecta a comunidade muçulmana em Copenhaga. Para isso, os líderes escandinavos juntaram às caricaturas publicadas na imprensa, cartoons mais agressivos, alegadamente encomendados a grupos extremistas. Nos desenhos, o profeta surge no corpo de um porco, na pele de um pedófilo, e como vítima de violação canina. Embora os mandatários da Dinamarca rejeitem acusações de manipulação do dossiê, crescem as suspeitas sobre uma campanha de contra-informação islâmica.Cabeças a 7 mil eurosMas é o Ocidente que continua na mira dos ataques. A retirada forçada do pessoal diplomático de várias representações europeias no mundo árabe, entretanto vandalizadas, é acompanhada pelo boicote de produtos ocidentais. Segundo a edição online do alemão Spiegel, o alargamento do cerco económico pode representar um prejuízo anual de 322 milhões de euros para a economia dinamarquesa, e a perda de cerca de quatro mil postos de trabalho. Os números podem ter influenciado a recente mudança de direcção do Jillands Posten. Depois de defender a legitimidade dos cartoons, o chefe de redacção do diário dinamarquês, Carsten Jude, sublinhou, em editorial, que a publicação nunca teve a intenção de ofender os muçulmanos. No entanto, salvaguarda que o jornal não lamenta a publicação das caricaturas. O pedido de desculpas soou a pouco entre os grupos islâmicos, que exigem uma retractação da própria Dinamarca, extensível a todos os países cuja imprensa reproduziu os desenhos. Em França, a ira centra-se no France Soir, o primeiro a defender a liberdade de expressão. «Temos o direito de caricaturar Deus», escreveu o jornal numa primeira página dedicada a uma caricatura com as divindades budista, judia, muçulmana e cristã. A «ousadia», em forma de consolo: «Não te queixes Maomé, aqui todos somos caricaturados», rendeu ao periódico uma ameaça de bomba, na segunda-feira, 6. E provocou o despedimento do presidente da editora, a mando do principal accionista da empresa.Porém, o mote parece ter inspirado a Liga Árabe Europeia, movimento que reúne cerca de 5 mil fiéis na Bélgica. Na sua página da Internet, a associação anuncia o compromisso de «romper tabus na Europa». Para começar, o grupo muçulmano contribuiu com uma caricatura de Anne Frank e Hitler, retratados numa cama como amantes. O sentido de oportunidade anuncia novas batalhas, nomeadamente jurídicas – na França, na Alemanha e na Áustria a negação do Holacausto é punível criminalmente. No duelo liberdade de expressão versus liberdade religiosa, os fundamentalismos repetem-se em discursos musculados: «Se para a Dinamarca a liberdade de imprensa é sagrada, para nós a defesa do profeta Maomé também é sagrada», sublinha Abu Laban, citado pela agência noticiosa Associated Press. «Não é um caso de liberdade de expressão», conclui o líder. Certo é que a repressão continua firme no mundo árabe. Baseado na presunção de que os 12 cartoons foram desenhados por uma única pessoa, o partido religioso paquistanês – o Jammat-e-Islami – oferece uma recompensa de 50 mil coroas dinamarquesas (quase 7000 euros) a quem entregar a «cabeça» do desenhador. (...)"

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