sexta-feira, março 31, 2006


O último Cândido de Mena, publicado postumamente ontem no ABC




Morreu Mena.

Texto e caricatura: José Orcajo*


Cândido ficou órfão e não será capaz de suportar a sua solidão. Faleceu o seu pai artístico José Luis Martín Mena, o grande Mena, o máximo expoente do cartoon sem palavras em Espanha desde que começara a praticá-lo nos inícios dos anos 50 no mítico semanário de humor La Codorniz.

Quiçá fora este humor desenhado que não necessita textos, assim como a intemporalidade dos seus temas, o que fez com que o humor de Mena se estendesse primeiro por todos os jornais e revistas de Espanha: Informaciones, Arriba, El Alcázar, Pueblo, Ya, Pepote, Humorismo Mundial, Can Can, Gaceta Ilustrada, La Actualidad Española, Blanco y Negro, ¡Hola!, Semana... e depois por meio mundo, transformando-se no humorista gráfico mais universal que temos tido; Jours de France, Esquire, París Match, The New York Times, Penthouse... contaram nas suas páginas com cartoons de Mena.

Os seus últimos trabalhos em revistas humorísticas foram para La Golondriz e para Virus Mutante, mas, sobretudo, aplicou-se em El Cochinillo Feroz, a publicação satírica que uns quantos loucos editamos em Segóvia e para a qual criou expressamente a série 'Gastronomia a Mena' que escreveu e desenhou até ao último momento da sua morte. À sua conta, ficam-nos os livros 'Enchufados y Oprimidos', 'El Matrimonio' e 'Moderna Cartilla de Urbanidad'**, e prémios como el 'Mingote', el 'Paleta Agromán' ou el 'Nacional de Periodismo'. E teve a ideia de instalar um museu dedicado a Dulcineia, na manchega localidade de El Toboso, que devido a isso o nomeou seu cidadão adoptivo.

Mena era ambidextro e, como os génios, não tinha idade; á a sua obra aquilo que os converte em intemporais, e nesta obra, pontifica, acima de tudo o que já foi referido, 'Cândido', o famoso personagem que desenhou diariamente no ABC desde os anos setenta. Três décadas largas contando suas aventuras. Três cabelos, três quadradinhos, tres mil e pico gags surpreendentes.

Depois da sua primeira passagem pela sala de operações no verão passado, Mena contou-me que, prevendo que o seu internamento se prolongasse para além do previsto, havia desenhado suficientes tiras com o cartoon de Cândido. "Não as suficientes", disse-me na segunda vez que saiu do hospital, "pois, embora me encontre bem, custa-me fazer o trabalho dia a dia". Mas 'Cândido' continuava fresco, genial como na sua primeira aparição. Mal sabiam Mena e Cândido que haveria uma terceira e definitiva recaída. ¡Hasta siempre, José Luís!, Adiós, Cândido.

*(Este texto, que José Orcajo amavelmente cedeu a Buraco da Fechadura, foi pulicado onte no diário ABC. Para a edição do próximo domingo de El Norte de Castilha, José Orcajo escreverá outra evocação de Mena) .
**Verifica-se que, ao contrário do que Buraco da Fechadura afirmou noutro artigo, MENA não nos deixa apenas um livro.


Máximo também dedicou o seu cartoon habitual no El País a Mena, desenhando Cândido, a personagem mais conhecida do humorista agora desaparecido. (Cortezia do envio para Buraco da Fechadura: J.L.Cabañas)

1 comentário:

Anónimo disse...

Sentida necrologica