Recordando Célio Cantante
Numa deambulação pela net, calhou tropeçar há cinco minutos numa entrevista que fiz ao caricaturista Célio Cantante, publicada no Região de Leiria a 16 de Fevereiro de 2001 assinada com o meu nome copleto (na altura, não tinha ainda ultrapassado uma dificuldade que a Comissão da Carteira de Jornalista me impunha quanto à assinatura de simplesmente José Oliveira para os meus textos).
Célio viria a falecer menos de nove meses depois desta entrevista, aliás muito incompleta.
Agora, sete anos passados, creio que já poderei confidenciar aqui por que motivo corri a fazer tão apressada entrevista. Vamos por partes:
Tenho em meu arquivo plaquetes (ou plaquettes como queiram) editadas em 1953 durante a Queima das Fitas de Coimbra que contém caricaturas assinadas por um tal Célio. E a sua actividade no género prossegue nos anos seguintes, sempre em fulgurante crescendo de qualidade. Quando estudei em Coimbra, e compulsando a qualidade das caricaturas dos Livros de Curso e plaquetes (plaquettes?), não tie dúvidas em o eleger como um dos dois ou três mais brilhantes que passaram por aquela academia. Mas registos biográficos do autor não havia.
No começo da década de 70, venho residir para Leiria onde acabo por montar um gabinete de Topografia a escassos cem metros do atelier do arquitecto Cantante. Que durante décadas não conheci, porque nunca calhou; não obstante as afinidades profissionais.
Até que, surgindo em Coimbra no final de 1992 o encontro transgeracional de Caricaturistas designado Encontrão, decorrente de noitadas de caricaturas que mantive com o Orlando Noronha, o Eduardo Esteves e o Quim Paixão, surgia um problema: ninguém conseguia localizar um dos mais fulgurantes caricaturistas de meados do século: Célio.
Durante um telefonema, dou conta desta dificuldade ao Augusto Mota, leiriense que também desenhou caricaturas em Coimbra naquela altura. Que me responde, surpreendido: "Então não sabe quem é o Célio?!... É o arquitecto Cantante!" Acabou por não ir a Coimbra. Nessa altura, apenas o contactei via telefone. Desconheço se a silenciosa doença que o vitimaria já o minava ou não.
Acabei por vir a cionhecê-lo pessoalmente uns anos mais tarde durante uma das edições das Festas da Caricatura de Leiria, que decorreu por iniciativa motivadora da jornalista Lurdes Trindade, na antiga churrasqueira Transmontana (que mudara de nome, não me lembro para qual), nas proximidades das Cortes, lado direito de quem vai de Leiria. Nessa altura, durante o jantar, Céio Cantante ainda esboçou a tentativa de fazer uma caricatura, mas depressa se retraíu. Não tinha mão exercitada para tal tarefa.
Certo dia, chegou-me a notícia: a saúde não estava a sorrir a Célio Cantante, embora atravessasse uns dias de recuperação. Que poderiam ser curtos, avisaram-me.
Marquei uma entrevista com ele. E recolhi pouco mais material do que aquele que se publicou, pois percebi que lhe não estava a ser fácil recuar ao tempos de juventude. Levei-lhe uma das suas primeiras cariaturas para Livro de Curso que ampliei e fotocopiei sobre cartolina, para efeitos de foto, que o fez comentar que "era mesmo assim que eu desenhava, neste tamanho e neste género de folhas". E à pergunta acerca da data das suas primeiras caricaturas para plaquetes (plaquettes?), respondeu: "1954". Calcule-se, portanto, a sua surpresa quando lhe mostrei exemplares com caricaturas suas datados de 1953! "São seguramente as primeiras", asseverou.
Nove meses depois da entrevista que me concedeu, viria a falecer. Sinto que cumpri uma obrigação de cidadania ao registar a existência de um artista superior que corria o risco de, por força d sua modéstia, ficar incógnito na história das artes portuguesas. Mas fiz pouco. E disso me penitencio.
Convido-vos a ler a entrevista então publicada:
1 - Clicar em: http://www.regiaodeleiria.pt
2 - Na janela de "Pesquisa", escrever Célio Cantante caricatura
3 - Aparece o texto de apresentação. Clicar em [+]
Zé Oliveira
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