sexta-feira, agosto 15, 2008

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Tertúlia BD de Lisboa
Diplomado pelo Geraldes Lino
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Calhou-me a mim, na primeira Terça de Agosto, a homenagem que o Geraldes Lino presta mensalmente, no Parque Mayer, a um autor de Banda Desenhada.

Se é certo que não considero que o trabalho que desenvolvo no mundo gráfico seja essencialmente de BD, reconheço que com alguma frequência recorro à narrativa sequencial para elaborar um cartoon. Isto é: não raro, os meus cartoons são curtas histórias contadas em duas vinhetas ou mais, por vezes meia dúzia. E por aí me tenho ficado.

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Foi meu companheiro de viagem, desde Leiria, o excelente cartoonista Mário Teixeira, que em plena tertúlia lançou um "Comic Jam" - uma história de BD criada colectivamente sob total improviso - que me tinha a mim como desgraçado protagonista, tendo-lhe cabido a ele o arranque da prancha e a mim o encerramento. Desenhei o The end como pude (mal e porcamente), com o constrangimento de estar a jogar em causa própria e de me ver cheio de vontade de meter rodas ao cominho do regresso. Porque a minha capital de Portugal é Leiria.

Uma BD qualquer dia ou nunca

Confessando o meu fascínio pela nona arte, não nego que volta e meia me assalta a vontade de avançar para uma história de várias pranchas. E tenho, inclusivamente, esboçado mentalmente as linhas gerais do que poderia ser uma ou outra história. Umas, imagino-as em linha clássica; outras, em registo cómico. Enfim, quem me conhece sabe que tenho esta característica (mais defeito do que qualidade) de me repartir por mil actividades, por mil e uma características, por mil e duas dúvidas. E fiquemos assim: não rejeito nem prometo uma história de BD para um dia destes; ou para nunca.





Numa perspectiva de que estas tertúlias podem extravasar para além do universo de cultores e servir também para angariação de novos entusiastas ou remoçamento de entusiasmos adormecidos, convidei dois companheiros que tive na guerra colonial: o Fernando Hipólito e o Abílio Henriques. Foram ambos interlocutores incansáveis com o Zé Manel, cujos desenhos no Jornal do Exército muito lhes suavizaram os longos dias do leste de Angola. Lembro-me de, há 40 anos, o Fernando Hipólito me confessar a sua grande admiração para com o virtuosismo do traço e do humor de Zé Manel. Admiração que eu partilhava e mantenho.



A minha primeira vez

Era a primeira vez que participava na tertúlia do Lino, não obstante esta já ser a nº 288. E tudo suplantou a minha expectativa! A começar pelo número de participantes, que atingiu a meia centena, não obstante estarmos em pleno mês de êxodo lisboeta e de eu ser completamente desconhecido (creio...) da maioria dos aficionados de BD.




Aqui está o diplomante (de bigode) e o diplomado (de cabelo no ar)



Dá cá Diploma, toma lá Caricatura


A organização, simples, foi muito eficaz e dinâmica. Enquanto se ia jantando, o Geraldes Lino distribuía fanzines e folhas volantes recheadas de material vinculado ao tema. E nessa linha de distribuição entrou o fanzine autobiográfico que preparei, editado mediante preço de favor da loja Copiola, de Leiria.



As amabilidades do Geraldes Lino foram retribuídas com esta caricatura que lhe ofereci.

Para ler o manuscrito sem estragar a vista, o melhor é clicar sobre o desenho



Como se sai disto?
Quando me coube dizer duas tretas, falei da situação difícil que atravessa a Caricatura portuguesa, designadamente da tentativa de esvaziamento da sua força crítica. Criou-se algum diálogo com os tertulianos, do qual retenho uma pergunta: "como é que se sai disto?" Como sou fraquíssimo na cozinha, não adiantei nenhuma receita milagrosa. Mas debitei umas considerações acerca da necessidade de as gerações mais jovens tentarem encontrar soluções que nos proporcionem uma imprensa de conteúdos mais sólidos ("de Conteúdos", como, tout court, dizia um tertuliano), também no humor.


Zé Oliveira

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