Tiras de Diário do Alentejo, agora em livro
Verdadeiro Humor de
verdadeiros alentejanos
A próxima Quinta, 30 de Novembro, é a altura mais adequada para a população de Beja (e arredores, incluindo Lisboa e Algarve) comprar prendas de Natal muito originais e divertidas e (mão menos importante) a preço de ocasião. A partir das 18 horas, acrescente-se, na Bedeteca de Beja.
É nessa altura (e nesse local) que os autores estarão disponíveis para acrescentar à prenda a mais-valia do autógrafo, sem cobrarem mais por isso! (Cobram menos, creio, porque nos lançamentos os livros costumam ter desconto).
De que é que estamos a falar ?
“RIbanho” nasceu no início de 2003 a partir do convite feito por António José Brito (então director do Diário do Alentejo) a Luís Afonso e a Carlos Rico para desenvolverem uma tira para a última página do jornal. Surgiu assim o pseudónimo “Luca”, com as duas primeiras letras dos primeiros nomes de ambos.
Depois de terem criado as personagens em conjunto, dividiram tarefas: Luís escreveu semanalmente os textos, Carlos fez os desenhos e a tradução para alentejano (ainda que se exprima facilmente no alentejano falado, Luís Afonso tem alguma dificuldade em escrevê-lo). Passados quase quatro anos e quase duzentas tiras, chegou a altura de fazer um livro. Este, com uma selecção do melhor de Ribanho, ordenada por ordem cronológica.
A edição é da Prime Books.
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RIbanho, o riso alentejano
Geraldes Lino
À laia de preâmbulo, começarei por dizer que detesto anedotas sobre alentejanos, mesmo que, por vezes, tenha rido com algumas. Detestei, em especial, as que tiveram o seu apogeu maldoso no pós-25 de Abril.
Para cortar à nascença ilações falsamente óbvias, que fique claro: sou lisboeta, e não tenho nenhum familiar alentejano.
Impõe-se, pois, que esclareça já o porquê desta minha animosidade em relação às ditas anedotas. É que sempre detectei nelas laivos de achincalhamento, e não raro alguma intencionalidade política, associando à população daquela província intensa carga negativa de esquerdismo, além de preguiça, lentidão e estupidez.
Mas o que é que tem a ver essa minha interpretação onde se cruza o Alentejo com anedotas e política, se o que está em causa é, tão-somente, apresentar um livro de "cartoons", da autoria de "Luca" –, publicados inicialmente nas páginas de um jornal?
Tem tudo a ver: o jornal é o Diário do Alentejo, e "cartoons", esse anglicismo tão vulgarizado, é algo classificável, simplificadamente, como anedotas ilustradas. Sobretudo, repare-se na coincidência: têm alentejanos como personagens, tal como os dois autores – e, claro, nem um nem outro são homens de direita.
Assim sendo, seria de esperar uma espécie de vingança, tipo, agora vamos nós gozar com quem tanto nos tem gozado? Posso afirmar que uma atitude desse género não faria sentido para eles, conhecendo-os como eu os conheço.
Luís Afonso nasceu em Aljustrel (1965).Ex-professor de Geografia, ex-técnico de Desenvolvimento Local, vive em Serpa, onde exerce a tempo inteiro a inacreditável profissão de cartunista (escrever "cartoonista" é tão absurdo como seria se escrevesse "footebolista"), fazendo para o jornal Público, diariamente, o já famoso (tanto que até motivou uma peça teatral) "Bartoon", e ao sábado "A Semana Política", sendo domingo o dia propício para a "Sociedade Recreativa" na revista semanal Pública. Mas todos os dias são bons para Luís Afonso fazer rir com o barbeiro que espalha as suas tiradas irónicas sobre desporto em geral, e futebol em particular, na tira de três vinhetas intitulada "Barba e Cabelo", no diário desportivo A Bola, onde também, mas nesse caso ao sábado, esgalha "Humor Ardente". A brincar com impostos, fugas aos ditos, preços do petróleo, cotações do euro, e assuntos quejandos, faz de 2ª a 6ª uma tira intitulada "SA" no Jornal de Negócios. Como às três da madrugada de 6ª feira normalmente ainda lhe apetece fazer mais qualquer coisinha, o cartunista alentejano lembra-se do compromisso que tem com a revista Sábado e para ela desenha um "gag" em que brilha um tal "Lopes, o repórter pós-moderno". Depois de tudo isto – que só de ler, cansa – ainda conseguiu imaginação para criar "Sol aos Quadradinhos", e tempo para os desenhar, no novel semanário Sol.
Carlos Rico nasceu em Moura (1968), onde vive e trabalha como gráfico do respectivo sector da Câmara Municipal, em representação da qual é o principal responsável pela realização anual do Salão Internacional de Banda Desenhada de Moura. Paralelamente, é também cartunista, e nessa qualidade já colaborou no Além Tejo Económico, de Évora, no quinzenário A Planície, de Moura, estando actualmente a desenhar a rubrica "Cartoon" no semanário Jornal do Sporting.
Como se isto fosse pouco para estes dois preguiçosos alentejanos, em Fevereiro de 2003 resolveram formar uma dupla, usando o pseudónimo de "Luca" ("Lu" de Luís, e "Ca" de Carlos), e com ela criaram a rubrica "RIbanho" no Diário do Alentejo. Desde então, semanalmente, têm posto em cena, com muita graça, personagens a analisar os acontecimentos que afectam o Alentejo, a comentar as decisões do governo do país ou simplesmente dos governantes locais, apenas fazendo os seus autores uma pequena concessão: a de gozarem com o sotaque dos "compadris" – afinal de contas, também o deles –, o que, em última análise, significa que se riem, com bonomia, de si próprios.
Acontece, naturalmente, haver por vezes, nesses curtos "gags" (imaginados e escritos pelo Luís, desenhados e coloridos pelo Carlos), intervenientes algo ingénuos, ou, em contrapartida, terem acutilante sentido crítico, sendo que, com frequência, os diálogos se mostram certeiros, oportunos e actuais em relação aos acontecimentos. Leia-se, por exemplo, este:
"– Parece c'as tropas portuguesas fizeram uma simulação de guerra ali p'ròs lados de Grândola, "compadri"!
– Uma guerra a "brincari"?!
– Claro, "compadri"!… Se fosse a sério chamavam-se os americanos!"
Acrescente-se a este acerado humor as imagens caricaturais – mas um caricatural amável, quase ternurento – dos dois alentejanos protagonistas, acompanhados na última vinheta por um burro que troca olhar cúmplice com o leitor/visionador, e ter-se-á a noção do exemplar funcionamento deste género de comentário figurativo.
Por trás dessas imagens que "falam" usando "balões" de banda desenhada, está a excelente capacidade de análise divertida e sempre oportuna da invulgar dupla de autores, talentosos alentejanos que se mantêm firmes na sua terra, defendendo-a com a terrível arma do humor, sem necessidade de balas achincalhantes.
Carlos Rico
Nasce em Moura, em 1968.
Desempenha, na Câmara Municipal de Moura, as funções de “designer”, no respectivo Sector Gráfico.
Coordena o “Moura BD – Salão Internacional de Banda Desenhada”, certame que, desde 1991, a Câmara de Moura tem vindo a promover.
Desde 1990 publica “cartoon” na imprensa. Primeiro, no Diário do Alentejo (onde começou com “Beto, o traquinas”, uma série em forma de tira, cujos protagonistas eram um grupo de miúdos); pouco depois, n’ A Planície (onde, na última página, publicou, durante cerca de quatro anos, a série “Fecho... é claro”).
Mantém a colaboração com o “DA” (até hoje). Pelo meio, colabora esporadicamente em inúmeras publicações (Revista da Água, Jornal de Almada, O Ás, A Voz de Paço d’Arcos, Notícias do Entroncamento, etc) e, com alguma regularidade, no Além Tejo Económico, enquanto o projecto dura (alguns meses).
Em 1999 começa a publicar “cartoon” no jornal do Sporting. É uma experiência completamente nova, dado que as ideias lhe são fornecidas pelo jornal. Apenas o traço (a preto) é seu. Este esquema dura até 2001. Pára durante dois anos. Em 2003, ao mesmo tempo que o jornal sofre uma mudança gráfica, reinicia a colaboração, publicando, semanalmente, um “cartoon” a cores, que ilustra textos humorísticos de temática desportiva. Em 2005, a página de humor é suprimida e passa a publicar, a cores, na última página, uma série de tiras cujo principal personagem – um leão, claro – foca temas relacionados com o clube de Alvalade e com o futebol em geral.
Em Fevereiro de 2003 cria com Luís Afonso a série “Ribanho” assinada sob o pseudónimo de LUCA.
Publica o álbum “A Moura Salúquia”, em banda desenhada, sob edição da Câmara Municipal de Moura (1995). Seguem-se “HumoRico” (1996, edição da Associação Jogo de Imagens) e “Um sorriso no... ar!” (1998, Edições Polvo).
Ilustra livros infanto-juvenis, com textos de Maria Eugénia Fernandes, sob edição das Câmaras de Moura (A canção do Pastor, Um céu de lata e Nas nuvens também há flores) e de Barrancos (Manolito, o bixarrácu e a Fêra de Agohtú; Manolito, o bixarrácu e o presépio encantado; Manolito, o bixarrácu e o cahtélu de Noudá).
É Convidado Especial na Tertúlia BD de Lisboa, em 2000.
Recebe o Troféu Sobredão, em 2002, no salão BD da Sobreda.
Em 2006 recebe o Prémio Mais Ilustração atribuído pela revista Mais Alentejo.
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LUÍS AFONSO
Natural de Aljustrel (1965), casado, três filhos.
Residente em Serpa. Licenciado em Geografia pela Universidade de Lisboa (1988).
Leccionou no ensino secundário e trabalhou para autarquias em projectos de desenvolvimento local/regional até 1995.
A partir desse ano dedicou-se exclusivamente aos cartoons, actividade que havia iniciado dez anos antes, quando estudava em Lisboa.
Começou n’O Diário/fim-de-semana, passando por vários jornais e revistas.
Mantém colaborações permanentes em A Bola (desde 1990), Público (1993), Jornal de Negócios (2003), Sábado (2004) e Sol (2006).
Desde 2003 escreve os textos da tira RIbanho, com desenhos de Carlos Rico, no Diário do Alentejo.
É autor dos livros Bartoon (1996), Selecção (1996), Bartoon 2 (1998), Bartoon 3 (2000), editados pela Contexto; e de Bartoon 10 anos (2003), Futebol Por Linhas Tortas (2004) e Sociedade Recreativa (2005), editados pelas Publicações D. Quixote.
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