domingo, novembro 12, 2006

Criador da Mónica no Festival de BD
Maurício de Souza na Amadora

Maurício de Souza (à esquerda na foto, acompanhado de Zé Oliveira), veio mais uma vez desde o Brasil para participar no 17º Festival Internacional de Banda Desenhada da Amadora.
Esta foto, obtida durante o Festival, é da autoria de Osvaldo de Sousa.
O Festival terminou no passado dia 5.

Faremos oportunamente referência ao livro de Osvaldo de Sousa apresentado no âmbito do festival.
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Uma vida a trabalhar no arame... sem rede
Zé dos Alicates Homenageado na Amadora

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A secção de Caricatura do XVII Festival de Banda Desenhada da Amadora, que este ano fez o seu enfoque sobre o trabalho dos artistas periféricos, homenageou Zé dos Alicates (José Augusto Carvalho segundo o BI), um artista de Santa Clara muito conhecido em Coimbra pelas suas caricaturas que desenha em arame e cuja popularidade se tem espalhado um pouco por todo o país e fora dele.

Zé dos Alicates deslocou-se à Amadora no fim-de-semana de 28 e 29 de Outubro, para receber o galardão das mãos do Dr. Osvaldo de Sousa, presidente da Humorgrafe e Director do Salão Nacional de Humor de Imprensa, que decidiu também distinguir Stane Jagodic, um humorista esloveno que trabalha com colagens de recortes, que se viu impossibilitado de deslocar-se a Portugal por motivo de doença.

Segundo a organização, a Caricatura nasceu para ser divulgada nas páginas dos jornais. Mas existem casos de desvio dessa finalidade, como é o exemplo de Zé dos Alicates, que sempre se expressou na arte do retrato satírico usando meios periféricos: arame e alicate.

O Perfil do Zé
Zé dos Alicates entrou ainda muito jovem para uma instituição de enquadramento social do norte de Portugal, onde aprendeu o ofício de encadernador, que chegou a exercer, mas por pouco tempo. Depressa se interessou pelas artes da manipulação artística do arame, produzindo pequenas estatuetas de fio metálico revestido com plástico colorido (que hoje encontramos por exemplo no interior dos cabos telefónicos). Nas montras de bijuteria de Coimbra (por exemplo da rua Adelino Veiga) era frequente exporem-se para venda, nos anos 60, os seus polícias, fogueteiros, sapateiros, estudantes, pescadores… enfim, uma galeria infindável de figuras populares que dificilmente terão resistido à fragilidade do material.

Emigrado para Paris, trocaria aí os fios coloridos pelo arame zincado, com que moldava (molda) o perfil de quem se exponham à sua frente.

Foi o então estudante de Coimbra e caricaturista Orlando Noronha (hoje advogado em Viseu) quem mais se empenhou na projecção do trabalho do Zé dos Alicates, há cerca de uma vintena de anos, trazendo-o para o convívio dos restantes caricaturistas portugueses, com quem passou a exibir-se e a confraternizar tanto em Portugal como em Galiza.

Eduardo Esteves, igualmente estudante de Coimbra, agora licenciado em Farmácia e Caricaturista, também teve uma quota-parte importante na divulgação do trabalho de Zé dos Alicates, tendo-o inclusivamente feito aparecer em várias vinhetas do seu álbum de banda desenhada A Falange do Silêncio, onde intervém no papel de pescador no Mondego. Aliás a pesca é, realmente, uma paixão para Zé dos Alicates.

Numa sucinta apreciação da sua obra, o historiador da Caricatura portuguesa Osvaldo de Sousa pronuncia-se assim acerca da originalidade dos trabalhos deste artista: “A caricatura é um retrato feito a lápis, a carvão, não feito de arame. Só que nas explorações plásticas periféricas tudo é permitido, e desse modo não há artista mais periférico da caricatura que Zé dos Alicates. Sendo um caricaturista repentista, não é fácil fazer uma exposição de obras suas. A caricatura em arame é feita perante a vítima, que logo a leva”.
Zé Oliveira

Ilustração: Osvaldo de Sousa por Zé dos Alicates

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