sábado, novembro 05, 2005

Finalmente, notícias de Cuenca


O Buraco da Fechadura parou um bocado no tempo, porque isto de ter estado duas semanas longe de casa acarretou várias consequências: aglomeração de trabalho e... quebra da rotina que esta coisa dos blogs exige.
Como se lembram, coube-me a tarefa de ir dizer "umas coisas" numa mesa rectangular (chamavam-lhe redonda, porque nuestros hermanos são um bocado distraídos e não repararam nas esquinas...) "dizer umas coisas" que, de um ponto de vista português, tivesse algo a ver com o humor de D. Quixote, já que a iniciativa decorria em Cuenca, uma preciosa cidade que é Património da Humanidade e fica ao lado da Mancha, mais ou menos a meia distância entre Madrid e Valência.
Com Fer (da revista Jueves) sentado à minha esquerda e Moncho Alpuente (da revista El Cochinillo Feroz) à direita, lá deixei a minha visão do contraste entre a capacidade do sonho acalentada pelo ícone D. Quixote e a incapacidade disso por parte do ícone Zé Povinho, o tal que compra aos pescadores espanhóis peixe pescado em Portugal. A preço de concorrência, porque eles são subsidiados para pescar e os nossos pescadores não são.
Da conferência de imprensa dada momentos antes do início da mesa redonda, com a TVE e a Rádio Nacional de Espanha (e a CNC, televisão regional) a recolher os nossos depoimentos, o Diário de Cuenca (um dos dois diários da cidade) "apanhou" estas declarações (ao fundo do recorte reproduzido):
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«José António Fernández (Fer)
Humorista gráfico
"O humorista realça o tonto dos temas sérios e o sério dos temas tontos"
José António Fernández, mais conhecido no mundo do humor gráfico como Fer, destacou as qualidades humorísticas de Cervantes reflectidas em D. Quixote. Para ele, um bom humorista é aquele que sabe realçar os aspectos tontos dos temas sérios e ao mesmo tempo assinala os aspectos sérios dos temas tontos. Fernández falou também durante a sua intervenção acerca do uso do humor como refúgio do medo. "Uma reacção inata do ser humano que se lhe manifesta desde os primeiros meses de vida", explicou. O humorista defendeu, na sua intervenção, um modelo de vida baseado no humor.»
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«José Oliveira (Zé Oliveira)
Humorista Gráfico
"Parte do humor da obra radica no ridículo, na sátira, até na humilhação"
O humorista gráfico José Oliveira considera que o humor em D. Quixote resulta de uma mescla de aspectos que fazem ressaltar o ridículo da situação ou da façanha. Neste sentido, dá como exemplo a contradição de um homem débil, sem forças, como era D. Quixote, que contudo se atreve a lutar sozinho contra moinhos (gigantes). A loucura é outra das componentes que dá humor à obra, embora alguns episódios possam inclusivamente chegar a comover o leitor, considera o humorista português».
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«Moncho Alpuente
Jornalista, escritor e humorista
"A indústria cultural não valora como deveria os produtos de humor"
O jornalista, escritor e humorista Moncho Alpuente criticou ontem [11 de Outubro] a indústria cultural afirmando que esta continua a não valorar como devia as criações humorísticas. Em relação à obra universal de Miguel de Cervantes disse que catalogá-la como obra humorística não significa retirar-lhe valor algum, bem pelo contrário, devido ao complicado do género. "entre a realidade (o que acontece) e o utópico (o que gostaríamos que acontecesse) há que colocar um colchão de humor ". Um cochão que, segundo Alpuente, é El Quixote na obra de Cervantes».
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Bloco de notas
1 - A minha participação na iniciativa, que se insere na comemoração do 4º centenário da primeira edição das aventuras do "Engenhoso cavaleiro D. Quixote de La Mancha", decorreu de um convite emitido por uma Empresa Pública criada para assinalar a efeméride. Nós por cá... somos capazes de criar uma coisa do género para... organizar um campeonato de futebol. Cultura? Cultivamos os nabos, alimentando-os com estrume que colocamos debaixo da terra, que é onde os nabos enfiam a cabeça (como o avestruz).
2 - O programa das comemorações inclui, entre outras iniciativas, uma exposição de caricatura subordinada ao tema (claro!) D. Quixote. Participaram, com um desenho cada, 45 caricaturistas convidados. Todos espanhóis menos eu, vá-se lá saber porquê. Mas há um deles , de seu nome Juan López aguilar, que é nem mais nem menos do que... o ministro da Justiça de Espanha!
Bom, ainda é apenas um. Mas já é um bom começo! Quando todos os ministros, primeiro-ministro e Presidente da República (e deputados, já agora!) de um país qualquer forem todos humoristas, a vida nessa santa pátria será de certeza mais divertida e mais justa!
(Estou com dificuldades em colocar o desenho do ministro; tentarei num post seguinte)
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Abraços
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Zé Oliveira

4 comentários:

Anónimo disse...

Fue mejor Ministro de Justicia don José María Michavila

Anónimo disse...

San Julian de Cuenca y San Lesmes

Anónimo disse...

El hermano de Sorrocloco

Anónimo disse...

Moncho Borrajo, genio del humorismo