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Acabou Um Lugar ao Sul
A Rádio está mais pobre
Depois de uma carreira de mais de 30 anos nas emissões da Antena 1, foi para o ar no passado sábado a derradeira emissão de Um Lugar ao Sul, com realização de Rafael Correia.
Não era um programa de Humor? Era um programa de Alegria. Onde se registava a alegria de se ser português. Onde o Povo era soberano. Onde o saber popular era compêndio.
Fica em lugar de honra na História da Rádio.
De http://www.alquimista.net/:
"O nome de Rafael Correia não dirá provavelmente muito a um bom número de leitores. Se lhe disser que ele é o autor de um programa que dá pelo nome de Lugar ao Sul, que resiste há mais de vinte anos na grelha da Antena Um da RDP, não sei se esse nome lhe dirá mais qualquer coisa. Para mim, é esse programa que há muito pontua e pontifica em parte das minhas manhãs de sábado.
A rádio continua a ser um meio de comunicação fascinante. Tem, apesar de tudo, conseguido resistir com imaginação às mudanças vertiginosas do panorama mediático. O transístor e a miniaturização deram-lhe flexibilidade e levaram-na aos lugares mais inesperados do planeta. Adaptou-se a novas formas de vida e está, agora, a entrar em cheio na era digital. Tenho, contudo, para mim que aquilo que faz o sucesso da rádio é a interioridade que alimenta e promove.
A história ensina que um novo meio de comunicação não elimina o mais antigo, antes conquista e desenha o seu espaço e o seu modo próprio de existir, reconfigurando o conjunto com novas combinações e características. Ora, num universo cultural alicerçado no que é visível e na exterioridade e, portanto, no sentido da visão, o meio rádio permite ao ouvinte a criação de um mundo de ideias, sentimentos e imagens muito particulares, tendo por base o som (música, palavra, ruído) e o silêncio.
E é assim que eu, sem nunca ter visto Rafael Correia, me sinto quase um seu amigo de longa data, imaginando a sua figura e o seu deambular semanal pelas terras do sul de Portugal.
Muito antes de o cidadão comum ter irrompido como grande protagonista nos tablóides impressos e televisivos, já Lugar ao Sul lhe dava destaque e primazia. Só que, neste caso, em lugar do lado sórdido ou exótico, o programa traz-nos as iniciativas, os saberes, as técnicas, as artes e a sabedoria de gente simples. Artista no modo de entrevistar, Rafael Correia entra frequentemente num jogo subtil de cumplicidades, a que não falta a argúcia e o humor, conseguindo documentos magistrais de um país que os holofotes da moda mantêm escandalosamente na sombra. E costura, depois, um programa de duas horas, acompanhado do melhor da nossa música, erudita e popular. Com um resultado "ao qual não se fica indiferente, tal é a beleza e o talento", como se reconhecia, não há muito, num texto editado na Internet (Carnet de Route d'Un Voyageur Solitaire en Algarve et Alentejo).
Rafael Correia é daqueles que, de forma discreta e persistente, acham que mais vale acender uma luz do que maldizer a escuridão"
Em tributo a Rafael Correia, ouçamos a derradeira emissão clicando aqui:
439911_50129-0908031149.mp3
segunda-feira, agosto 03, 2009
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