Não será tão cedo que o caso das Caricaturas de Maomé sai das páginas dos jornais. O artigo seguinte é transcrito da edição de ontem do Público. Embora extenso, vale a pena ler.
Maomé ausente do best of
Falta um episódio no DVD que reúne
os melhores de sempre de South Park
Joana Amaral Cardoso
A décima época de South Park estreia-se hoje no canal de cabo que a acolhe há nove anos, a norte-americana Comedy Central, um dia depois de ter sido lançado o primeiro best of em DVD destes cáusticos cartoons.
A relação entre o canal e os criadores da série, Matt Stone e Trey Parker, já foi menos tensa. No ano passado, os habitantes da pequena cidade montanhosa do estado do Colorado incrementaram a já habitual dose de polémica com uns pós de religião e a série chegou a estar em risco. Stone e Parker sempre se guiaram por uma máxima na feitura de cada história: "Tudo tem de ser aceitável ou então nada o é." Quando os episódios da nona temporada que visavam a Igreja da Cientologia e o profeta Maomé começaram a ser censurados ou tirados do ar pela Comedy Central, os autores questionaram-se sobre a continuidade de South Park. "Começámos a dizer "Não sei se este é um mundo em que South Park pode viver", admitiu recentemente Parker ao programa da ABC Nightline.Um desses episódios rendeu este ano à série a sexta nomeação para o Emmy para Melhor Programa de Animação. Em Trapped in the Closet ataca-se o fanatismo religioso de Tom Cruise e brinca-se com o rumor de que o actor é homossexual. Tornou-se um dos mais citados episódios da série e é um dos preferidos dos seus criadores, que lançaram ontem em DVD South Park: The Hits, Vol. 1 - Matt and Trey's Top Ten, com a sua selecção do melhor dos últimos nove anos. "Nunca estive tão assustado como na última série", confessa Parker, que diz que ia trabalhar a pensar: "Quantas mais vezes vão dizer-nos que não podemos fazer uma coisa até que nos baldemos?" Maomé, o ausenteApesar de ter sido um dos Super Best Friends (episódio de 2001), juntamente com Jesus Cristo, o profeta Maomé já não foi desenhado para o episódio duplo Cartoon Wars (2005), alusivo à polémica das caricaturas que inflamaram o mundo muçulmano. A Comedy Central proibiu-o, dizendo-se defensora da tolerância religiosa. Durante os episódios, apareceu nos ecrãs uma mensagem em fundo negro que dizia "A Comedy Central recusou emitir uma imagem do profeta Maomé no seu canal." No mesmo episódio, um cartoon que se diz ser da autoria da Al-Qaeda mostra Jesus a defecar sobre o Presidente dos Estados Unidos. Os autores pensaram em desistir depois da estação ter impedido que retratassem Maomé e também quando a repetição de um episódio em que uma estátua da Virgem Maria sangra (do ânus) foi alvo de discussão. Mas por agora não abandonaram a cidade e prometem continuar a criar humor até acharem que o podem fazer. A verdade é que, embora a escolha parecesse óbvia, Super Best Friends é o grande ausente do DVD agora lançado. Sempre actual mas sem "agenda". A série, uma das mais populares da última década, ganha a corrida temática às suas congéneres mais citadas - os Simpson e Family Guy - sobretudo pela rapidez. Um episódio de South Park, cujos desenhos simples parecem personagens de cartão dos primórdios da animação, leva em média cinco dias a fazer, pelo que os temas da actualidade entram rapidamente na vida do elenco. A guerra no Iraque, mas também o activismo de Hollywood contra ela, nada escapa ao palco multiusos da cidade do Colorado. Mesmo garantindo a distribuição equitativa do sarcasmo por todos os quadrantes, os autores negam ter uma "agenda" a cumprir. "No fim de contas, sabemos que o nosso trabalho é entreter e fazer as pessoas rir. Nunca chegamos a uma reunião de argumentistas e começamos a pensar: "Que posição podemos marcar sobre isto? Isso nunca acontece", garantiu Trey Parker à ABC News. Mas um olhar sobre os últimos nove anos da vida de Kenny (a eterna vítima), Cartman (o mais egoísta e conservador), Stan (o mais honesto e moderado) e Kyle (o único judeu da sua turma) parece uma revisão dos anuários políticos, sociais e culturais dos EUA. Sem maneiras e sem tabus. Saddam Hussein é o namorado do Diabo, o símbolo do Natal é um molho de fezes, Barbara Streisand é um monstro do tipo Godzilla, o Canadá é a fonte de todos os males e Kenny tem sempre que morrer. O criador de Uma Família às Direitas, Norman Lear, é um dos apreciadores da série animada. "Adoro o ultraje e eles são sobretudo ultraje", comenta o criador do politicamente incorrecto Archie Bunker. Trey Parker e Matt Stone insistem que a sua série de animação é sobre um grupo de miúdos e não um veículo para a mordaz e escatológica crítica social que acabaram por construir nos últimos nove anos. "Eles são egoístas. São uns pequenos canalhas. E a sociedade torna-os melhores. Não é um caso de "a sociedade corrompe-os", diz Stone.
quinta-feira, outubro 05, 2006
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