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Este trabalho, de que é autor o nosso amigo e companheiro de risco Ché (José Maria Varona), à semelhança de outros que Buraco da Fechadura tem publicado, parece-nos interessante para todos os leitores que desejem conhecer um pouco melhor a vida de um autor de Banda Desenhada (nem sempre fácil, mesmo para quem tem muito talento). Mas há um público que fruirá estas entrevistas com muito mais proveito: os jovens candidatos a desenhadores ou recentemente iniciados. E Buraco da Fechadura começa a identificar alguns exemplos desses.
Através destas entrevistas, verificarão que só com muito trabalho se conseguem resultados excepcionais.
(Para ampliar as imagens, faça clik sobre elas)
Eduardo Vañó Ibarra,
o último de um clã de ouro
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Entrevista por José Maria Varona (Ché)
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Eduardo Vañó Ibarra é filho de Eduardo Vañó Pastor (foto à esquerda) o criador de Roberto Alcázar y Pedrín e irmão do desenhador Vicente Vañó Ibarra (recentemente falecido), que nasceu em Valência a 30 de Março de 1944.
Eduardo inicia-se no ofício pela mão de seu pai, com quem começa a colaborar (por volta de 1958), quando ainda criança, na realização da série de Roberto e em dois dos últimos números de Milton El Corsario que seu pai produzia em simultâneo com Roberto e que também publicava na Editorial Valenciana.
Passado algum tempo e para atenuar a sobrecarga de trabalho a que os desenhadores, em geral, eram submetidos pelas editoras, Eduardo forma equipa com seu pai e seu irmão Vicente nascido em 1947 e juntos acabam por produzir os cadernos de Roberto Alcázar: Eduardo filho era o encarregado de realizar a lápis o conteúdo dos quadradinhos (das vinhetas, como dizem os espanhóis), Eduardo pai aplicava-se nas personagens principais e Vicente terminava o trabalho passando a tinta o conjunto. Em períodos de falta de saúde e, não obstante, para manter o ritmo de saída de 4 revistas por mês, a Editorial Valenciana encarregou, em cerca de 40 ocasiões (enquanto durou a série) Alberto Marcet da realização de episódios das aventuras de Roberto Alcázar y Pedrín.
Igualmente, Eduardo Vañó filho desenhou coisas por sua conta para a Editorial Valenciana, mas centrando-se na cor. Num determinado período, elaborou um considerável número de capas da revista SOS. (Várias ilustram esta entrevista)
Há um momento em 1976 em que a série de Roberto Alcazar y Pedrín deixa de publicar-se, o que obriga os irmãos Vañó a fazer pela vida em outros sítios, ainda mais, quando tempos depois a Editorial Valenciana encerra definitivamente.
Estabelecem contacto com a Editorial Universo de Itália para quem acabam por desenhar nas revistas Monello, Albo, Intrépido e Bliz, sendo esta a sua melhor época devido ao grau de liberdade que a citada Editorial dava a seus desenhadores, o que sem dúvida foi um estímulo (somado ao facto de que recebem bastante mais), para que os Vañó elaborem trabalhos de grande qualidade artística.
Continuaram com a Agencia Norma, a qual expandiu as suas obras por diferentes países europeus. Em Espanha acabaremos por conhecer parte deste labor, através da série Buscando la Muerte que publicou no Dossier Negro.
Também trabalharam para o Reino Unido através de Bardon Art.
Passado algum tempo, Eduardo por motivos de saúde (entre outros) teve de ir deixando a sua actividade artística, que na actualidade ficou reduzida a algo de desenho e pintura que realiza apenas para consumo interno.
Depois da morte de seu irmão Vicente (é de Vicente o desenho ao lado), tive a oportunidade e o gosto de fazer-lhe esta entrevista, convicto de que darei a conhecer facetas deste grande artista e de seu irmão que merecem ser conhecidas.
- Amigo Eduardo, permite-me que antes de mais te pregunte como entrou a família Vañó na Editorial Valenciana.
- Ao fundar-se a Editorial en 1941 por Juan Bautista Puerto Belda (que era cunhado de meu pai, por estar casado com sua irmã), meu pai foi um dos primeiros a incorporar-se na sua equipa para desenhar os cadernos de la série de Roberto Alcázar desde o seu primeiro número, que teve o título Los Piratas del Aire; claramente um verdadeiro êxito desde o início.
- Naceste em 1944. Como decorreram os teus primeros anos de vida, principalmente no que se refere ao desenho?
- Como todos os garotos, fiz os meus estudos da primária e logo segui o bacharelato. O pai não era apenas desenhador, também era profesor de desenho, por isso, primero só a mim e depois também a meu irmão, ensinava-nos a matéria. Além disso e durante uns tempos, asistí a aulas de Belas Artes, embora não tenha durado muito, pois não desenhava se não gessos, não avançava suficientemente na profissão, por isso comecei a dedicar atenção aos grandes mestres do momento: Jesús Blasco, los Freixas, Harold Foster, Alex Raymond e muitos outros; posso dizer que esses foram os meus verdadeiros mestres. Apesar de tudo, considero-me um autodidata.
- Começaste a trabalhar com teu pai com muito pouca idade. Como foi isso?
- Considero-me um privilegiado porque, repito, meu pai (foto à esquerda) era desenhador e um dos mais conhecidos da época. E isso fez com que me afeiçoasse cada vez mais ao desenho em cujo domíniofui avançando, até que chegou o momento em que meu pai considerou que eu estava em condições de o ajudar. Foi assim que enveredei aos 14 anos por um ofício que não abandonei nunca. Ele estava submerso por muito trabalho que tinha de realizar cada semana; além disso, tinha problemas de visão devido a calamidades passadas na época da guerra civil que haviam atingido o seu nervo óptico, pelo que a minha ajuda, passado o tempo, foi uma bênção para ele, incrementada mais tarde pela incorporação de meu irmão Vicente na equipa.
- Em que consistia o vosso trabalho?
- Meu pai tinha o compromisso de realizar um caderno de Roberto Alcázar y Pedrín em cada semana. Eu desenhava os quadradinhos (as vinhetas) a lápis, (lembro-me de que nas cabeças punha apenas uns risquitos no sítio dos olhos, nariz e boca), meu pai passava a tinta as personagens principais, em particular
as cabeças que ele dominava como ninguém e por último, Vicente (foto à esquerda; falecido a 15-03-06, notícia no Buraco de 30-03-06) terminava a tinta o trabalho; inclusivamente acrescentando detalhes por sua conta que não apareciam nas vinhetas iniciais.
- Até quando foi assim?
- Até ao final da série, para sorte de todos e para alívio de meu pai cujos problemas de visão aumentavam dia a dia. Esta colaboração estendeu-se inclusivamente a um par de cadernos da série Milton El Corsario que ele desenhava em simultâneo com Roberto. Na verdade, Milton foi um ensaio que meu pai arquitectou para eu e meu irmão nos lançássemos no desenho de historieta; Mas os nossos verdadeiros resultados foram em Roberto Alcázar y Pedrín.
- Fala-me do teu trabalho para a revista SOS.
- Eu era un entusiasta da cor, coisa que a Editorial Valenciana acabou por descobrir, acabando por encarregar-me de uma quantidade muito importante de capas revista SOS que a dita Editorial também editava. Desempenhei esta actividade durante dois anos quando muito. Pintava as capas sobre cartão, a óleo.
- Afinal, que aconteceu a Roberto Alcázar?
- Com o passar dos anos entraram em circulação outros meios para entretenimento dos miúdos, entre eles a televisão. As bandas desenhadas - aquelas nossas bandas desenhadas - começaram a vender-se cada vez menos e Roberto y su Pedrín não seriam excepção. Em 1976 a série deixou de publicar-se. O último número que saíu foi o 1219. Algum tempo depois e devido a um acumular de problemas, a Editorial Valenciana teve de fechar.
- E...?
- Nada; a partir de certo momento os irmãos Vañó tivemos de fazer pela vida como qualquer filho de vizinho. Durante uns tiempos meu irmão e eu fizemos lápis para Segrelles e para Vicente Ramos, o de "Chispa". Depois, e para sorte nossa, estabelecemos contacto com a Editorial Universo de Italia e começámos a trabalhar para eles. As onzas coisas aparecian nas revistas Monello, Albo, Intrépido e Bliz.
- Quem vos conhece bem, diz que aquele foi o vosso melhor período. A que se deve isso?
- A política que seguia a Editorial Universo com os desenhadores era muito positiva, davam-te um guião e toda a liberdade para que o realizasses a teu gosto, algo que sem dúvida estimulava a nossa imaginação e te levava a superar-te dia a dia.
Tudo ficava longe do que se fizera até àquele momento; nada de vinhetas todas iguais com o mesmo ângulo, tal como havias feito para a Editorial Valenciana. Para os italianos podías fazer quadradinhos (vinhetas) sem linhas, de diferente tamanho e em diferente posição (mais picadas, mais estreitas, mais largas...) incluir orlas; tudo a teu gosto, a teu capricho, algo que se saía do normal. Naquelas condições a nossa fantasia desbordava-se até ao extremo, de tal modo que meu irmão e eu disfrutávamos fazendo aquilo. Seguindo o costume, eu realizava o trabalho a lápis e Vicente passava-o a tinta da china, acrescentando detalhes que contribuíam para que o desenho redundasse num conjunto muito completo e belo. Vicente era muito detalhista, manejava a canetilha como ninguém, os seus trabalhos, (outro exemplo ao lado) mercê dos detalhes, pareciam gravuras (salvando as distâncias, alguns lembravam o estilo de Gustavo Doré); por isso ele dizia sempre que gostava de ter sido gravador. Reconheço que nesse período o nosso desenho ganhou muito em qualidade.
- Além de la Valenciana, desenharam para alguma outra editorial espanhola?
- Não, desenhámos para a Agencia Norma que ainda não tinha a sua sede em Barcelona e orientou a nossa actividade quase exclusivamente para outros países europeus: Alemanha, França, Bélgica entre outros. Actuavam como nossos representantes; apresentavam os nossos desenhos a determinadas editoriais que contratavam os nossos serviços através deles. Pagavam-nos o estipulado e a Norma ficava com a sua parte.
Digo quase em exclusivo, porque em Espanha puderam ver-se as aventuras da série Buscando la Muerte graças a uma publicação chamada Dossier Negro, odonde, além de nós, aparecia outro tipo de aventuras. Através de Norma, meu irmão e eu fizemos coisas muito cuidadas. Esta agência exigia-nos um desenho de grande. Além de o trabalho mandado para o estrangeiro ser pago muito melhor do que em Espanha, permitia-te recreares-te no teu próprio trabalho; cobravas mais mas também o fazias muito melhor.
Os nossos desenhos chegaram ao mercado do Reino Unido através da Bardon Art.
- En que consistia a série Buscando la Muerte?
- Buscando ou Deseando la Muerte, se atendermos à versão original inglesa. Esta série relatava as aventuras de um piloto que tinha a cara desfigurada (devido a um incêndio), que ele cubria com uma máscara. Naquelas condições não lhe importava morrer, daí que estivesse arriscando a vida continuamente; vivia todo o tipo de aventuras inverosímeis, arriscadas e perigosas ao extremo. A série durou uns 18 meses.
- Voltando atrás, à época da Editorial Valenciana, como era a vossa relação com os companheiros?
- Boa em certo ponto, já que tínhamos pouco tempo para nos encontrarmos e convive; ainda assim lembro-me daquele grupo de profissionais, todos jovens, contando piadas e rindo-se. À minha memoria vêm aqueles sábados em que íamos às instalações da Editorial, situadas na Rua Calixto III, para entregar os nossos trabalhos e receber os cachets. Instalados no vestíbulo recordo Karpa, Nin, Serafín, Palop, Rojas, Cerdán, Marcet, Lanzón, Sanchis, Grema, Castillo, Edgar e muitos outros. A nós, como éramos muito jovens e da família (a Editorial pertencia a nossos tios), o bom do Fernando Martínez, o encarregado, convidava-nos a entrar quase de imediato. Já lá dentro, recebia-nos Soriano Izquierdo - alma máter de tudo aquilo - que nos dava conselhos sobre o nosso trabalho. De seguida cumprimentávamos os tios.
- Sendo como era teu pai da familia, não sentiu alguma vez a tentação de tomar parte do negócio?
- Que eu saiba, não. A relação de meu pai com a Editorial era como a de qualquer desenhador: Encarregavam-no de trabalhos, pagavam-lhos e aí terminava tudo.
- Como vivesteis a crise e encerramento definitivo da Editorial Valenciana?
- Como te disse já, chegou um momento em que as vendas da série de Roberto Alcázar y Pedrín, foram baixando até ao ponto de deixar de ser rentávele para a empresa. Chegou um dia em que o meu primo, filho de Puerto, nos comunicou que a citada séria ia deixar de publicar-se e assim foi. Meu pai deixou de desenhar e eu e meu irmão proseguimos como já contei.
- Sabe-se que la Valenciana teve problemas com os seus colaboradores por causa dos originaies e direitos de autor. Até que ponto os Vañó se envolveram nisso?
- Nós, como profissionais comprometidos com a Editorial, não ignorávamos que esta tinha problemas e graves, mas devido à nossa especial ligação familiar não quisemos participar em nenhum tipo de "movimento". Devido a àquela situação as coisas pioraram, e nós, tal como os demais, deixámos de aparecer porque ficámos sem trabalho; a pouco e pouco, encerraram definitivamente. Que eu saiba, ninguém ou talvez muito poucos, conseguiram recuperar os seus originais.
- Passado o tiempo, que aconteceu com o vosso trabalho para o exterior, através da Norma e outros?
- A nossa relação com todos eles foi frutífera e prolongada no tempo, mas também chegou o momento em que os videos-juegos a televisão se converteram em forte concorrência com a banda desenhada cómica (aquela que fomentava a imaginação dos garotos), que começou a vender-se cada vez menos. Esta nova situação, asociada aos meus problemas de saúde que foram agravando-se, acabaram por deixar-nos, tanto a mim como a meu irmão, fora de circulação. Por minha parte, continuo fazemdo uma coisa ou outra, de vez em quando, mas só a nível particular e dentro das possibilidades que a saúde me permite.
Dito isto, dou por terminada a entrevista e despeço-me do bom do Eduardo a quem desejo todo o melhor.
sexta-feira, maio 12, 2006
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6 comentários:
La escuela valenciana del teveo
...teveo? O TEBEO?
Fe de erratas: TEBEO, tiene usted razon
Te veo = Vejo-te
Esclarecimentos acerca de isto dentro de alguns minutos no corpo principal de Buraco da Fechadura.
Muito obrigado
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